O
título do “red” assenta que nem uma luva neste texto: tudo o que abaixo está
escrito não passa de uma versão, seguramente mais fraca, do que é possível
encontrar em “n” sítios espalhados por aí.
Ainda
assim, e tratando-se de redundâncias que estamos a falar, não podia deixar de
escrever este texto.
Não tendo nascido na altura certa para o ver jogar, as memórias que tenho do Eusébio são duas.
No início dos anos 90 do século XX, estava com a minha mãe num mercado de rua, a praça.
Enquanto ela fazia as compras, eu estava apenas, tal qual uma pequena criança, a “atrapalhá-la”. A dada altura, a eis que consigo “chatear” o suficiente para ter direito a uma prenda!
-Toma lá 100$00 para comprares o que quiseres!, foi o que me disse querendo dizer “Já estou farta de te ouvir e ainda preciso de fazer as compras! Desampara-me a loja uns minutos para ver se consigo acabar as compras!”
Vou até um vendedor que tinha visto minutos antes na entrada da praça e decido gastar os meus 100$00 na compra de meia dúzia de calendários com o Eusébio.
Um dos calendários tinha a seguinte imagem:
Tive a minha primeira camisola do Benfica pela mesma altura.
Nessa
altura, o marketing que existe hoje não tinha sequer começado a dar os
primeiros passos.
Fui com a minha mãe a uma loja de desporto onde me perguntaram qual o número que queria na camisola (não se colocava o nome…)
Escolhi
o “10”, porque era o número do Eusébio.
Lembro-me
que a camisola era da Adidas e tinha o patrocínio da Fnac, igual à da
imagem abaixo:
Através de alguma pesquisa, nomeadamente neste site , verifico que se
tratava do equipamento de 1989/90.
Hoje
já não tenho nem os calendários (provavelmente
estarão arrumados dentro de alguma caixa) nem a camisola (anos mais tarde deixou de me servir e oferecia-a um primo mais novo).
Notas acessórias sobre o acontecimento
1)
Vergonhosas as declarações do Mário
Soares! Desta vez
os seus correligionários não foram a tempo de arranjar as desculpas da praxe.
Já estava a ver: i) era domingo; ii) tinha acabado de acordar; iii) a Troika
que está cá; iv) ainda não tinha tomado os medicamentos; e v) o governo não tem
legitimidade democrática porque não ganhou as eleições pelo PS… Sobre isto, ver
isto
2)
Ainda mais vergonhosas declarações da
Assunção Esteves! O falecido ainda não tinha sido enterrado e já estava a
falar dos custos de uma transladação… Claramente que esta senhora é daquelas
pessoas que, quando morre um familiar, ainda o corpo está quente e já está a
fazer contas à herança! E claro, deve ser daquelas que só vai aos funerais de
familiares se houver herança a repartir…
3)
Ainda sobre 2), as declarações revelam
um grande mal da classe política. Se a falta de vergonha na cara, evidente em
1) e 2), é má, também o são a incompetência e impreparação desta gente! “para cima de centenas de milhares de euros”
revela bem que, mesmo não sabendo do que está a falar, não se coibiu a
mandar o seu bitaite. Por momentos cheguei a pensar que era mesmo necessário o
2º resgate só porque o Eusébio tinha morrido! Afinal não… Eram só 50mil Euros.
Mas a imagem da 2ª figura do Estado a mandar o seu bitaite de um assunto que
não conhece fica na minha memória. A alternativa? Simplesmente não falar
daquilo que não se sabe.
4)
Há alguns momentos que permanecem na
memória coletiva de um povo. Este foi um desses momentos. Daqui a uns anos, as
pessoas vão falar sobre o que estavam a fazer no dia em que o Eusébio morreu,
se foram ao estádio, se viram o funeral, etc. Espero dizer que tinha acabado de acordar quando
recebi uma mensagem a informar-me do assunto e ainda antes de acabar o pequeno
almoço acendi a televisão para ver se era mesmo verdade… (Ou então que estava a
preparar-me para ir para a escola ter aulas de recuperação… )
5)
O aproveitamento que o Estado Novo fez
com o Eusébio é exatamente igual ao que a “Partidocracia” fez/faz. No dia da
sua morte, não houve partido que não se tivesse colocado em “bicos de pés” para
ir lá! Desta tentativa de se colarem a imagem do Eusébio,
destaco aqui um excerto da nota do BE: “o
Bloco de Esquerda lembra que Eusébio “com a sua alegria e feitos desportivos
contagiou de esperança milhões de cidadãos que viviam num Portugal fechado e
isolado do Mundo por um regime sombrio e que menorizou o país”. Claramente
que era nisto que o Eusébio pensava quando entrava em campo!
6)
Este aproveitamento vai continuar nos
próximos tempos, mas agora vai disputar-se o prémio “quem é que se lembrou
primeiro de propor a transladação”.
7)
Dentro deste aproveitamento, claro que entra a atual direção do Benfica… Considero que as homenagens que lhe
foram feitas em vida foram justas, merecidas e adequadas. Da minha parte,
sempre que estava no estádio, aplaudia-o de pé, respeitosamente, por tudo o que
ele tinha feito para engradecer o clube.
8)
Acho a ideia do envidraçar a estátua e
mantê-la como está (com os cachecóis e a
coroa comprada nos chineses…) para lá de patética! Uma ideia destas só
podia vir da cabeça de alguém que, mal vê uma marquise por fechar, não descansa
enquanto a obra não é feita!
9)
A melhor homenagem que se pode fazer é
vencer no próximo jogo…
10)
…e no próximo, e no próximo, e no
próximo… porque afinal, estou seguro que era “apenas” isso que ele queria!